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ESTADOS UNIDOS: POLÍTICA EXTERNA NO PÓS-GUERRA FRIA


Com o final da Guerra Fria, a partir do anúncio de reabertura política da União Soviética, o modelo de democracia liberal estadunidense foi considerado como único capaz de solucionar mundialmente as grandes questões de caráter político, social e econômico; era o "fim da História", como Fukuyama (1989) escreveu. No entanto, apesar da tentativa de uniformização e integração dos países do sistema internacional e suas relações diplomáticas e comerciais, os Estados Unidos emergiram não apenas como vencedores da Guerra Fria, mas também como maior potência entre os Estados. Assim, surgiram três grandes características na política externa dos Estados Unidos: o compromisso com a formação de novos Estados democráticos, a tendência neoconservadora e a militarização dos conflitos internacionais. Na prática, isso implicou maior poder de negociação e decisão favoráveis aos interesses estadunidenses diante de instituições internacionais e a reorganização de políticas extraterritoriais específicas norteadas pelo militarismo.

No início da década de 1990, diversos novos Estados estavam em processos de criação e consolidação, a partir dos movimentos de descolonização. Nesse período, a política externa estadunidense foi marcada pelo esforço em se aproximar e conduzir os processos democráticos desses Estados, bem como em estabelecer novas relações comerciais e diplomáticas com diversos países ou grupos de países ao redor do globo. Toda essa política foi também caracterizada por um grande tom de otimismo e confiança diante dos ideais de progresso neoliberal adquiridos pelas nações e pelo reconhecimento do papel de cada país diante da comunidade internacional, por meio do fortalecimento de instituições intergovernamentais como a ONU (Organização das Nações Unidas), valorizando um discurso de multipolaridade, que, na verdade, acontecia contraditoriamente sob a hegemonia dos Estados Unidos.

O neoconservadorismo, considerado uma tendência política, ou seja, uma orientação de práticas de poder em um determinado sentido, começou a tomar forma na década de 1960, tendo um grande momento de exposição nos Estados Unidos, durante o governo W. Bush (2001-2009). Por compreender a política externa, por meio de intervenções militares, como grande pilar para a proteção e consolidação do modo de vida estadunidense, o neoconservadorismo acabou por justificar de forma quase perfeita o imperialismo dos Estados Unidos e sua retórica de libertação dos povos por meio da democracia liberal. Esse argumento também encontra respaldo nas origens estadunidenses do Destino Manifesto (século XIX) e acaba por mobilizar não apenas instituições, mas também a população civil, a fim de encontrar apoio para essas práticas (GRONDIN, 2005).

A Guerra do Golfo (1990-1991) também foi um momento crucial na política externa estadunidense. O objetivo principal dessa empreitada era conter a política expansionista de Saddam Hussein naquela região e, sobretudo, abrir caminho para um projeto de democracia liberal no Iraque e consequentemente, nos países vizinhos. A vitória da coalizão estadunidense foi um fator decisivo para os projetos de política externa dos EUA na virada do século, uma vez que garantiu legitimidade para a retórica de libertação dos povos e valorização dos direitos humanos, bem como anunciou a maior utilização de contingentes militares dos conflitos externos a partir daquele momento por parte dos Estados Unidos (HARVEY, 2004; MUNKLER, 2007). Para os cidadãos estadunidenses, essa vitória serviu como uma injeção de confiança não apenas nas políticas governamentais do período, mas também nas forças armadas do país, cuja atuação na Guerra do Vietnã (1955-1975) havia deixado uma impressão bastante negativa.

A Guerra do Golfo também promoveu uma grande mudança na imagem dos Estados Unidos diante da comunidade internacional: se antes eram uma potência disposta a lutar contra as atrocidades do nazismo e o suposto autoritarismo comunista, promovendo o bem comum para todas as nações, agora estava claro que os EUA pretendiam utilizar das mais variadas estratégias, inclusive a guerra, para defender seus próprios interesses diante dos demais países.

Todo o esforço dos Estados Unidos em intervir nos setores domésticos dos países periféricos ao redor do globo pode indicar que essas intervenções são uma maneira de garantir forçosamente sua hegemonia no sistema internacional. Esse pode ser um indicativo de que os ideais de soberania e autodeterminação estatal, aliados à organização multipolar do mundo, estão ameaçados pelo unilateralismo do domínio estadunidense.



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