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Bolsonaro não é burro, e está vencendo.

Atualizado: 3 de fev. de 2022



Em meio ao pior governo da história do Brasil, ocorre um movimento de identificação da catástrofe civilizatória materializada no governo Bolsonaro como um “erro histórico”. Podendo ser defendido com base em uma análise superficial de nossa história recente – afinal de contas, a destruição colossal causada por Bolsonaro é um fato -, esse movimento cumpre o papel de eliminar as condições histórico-estruturais da economia e da sociedade brasileira do debate público sobre o passado, o presente e o futuro do país.

O primeiro aspecto desse fenômeno são as interpretações do comportamento de Bolsonaro – e do bolsonarismo – como “loucuras”, “infantilidades”, “burrices”, etc. Fundamentada em todos os traços homofóbicos, machistas, racistas e xenófobos do atual presidente, a vinculação de sua figura a uma inaptidão para governar oculta elementos essenciais para a compreensão de sua continuidade no poder. Sendo um deles, por exemplo, a funcionalidade de todas as formas de preconceito para a adesão popular ao bolsonarismo. O fato do comportamento de Bolsonaro ser semelhante ao de milhões de homens brancos heterossexuais que, ao perceberem a conquista de direitos por grupos marginalizados da sociedade como uma ameaça às suas próprias existências, faz eles entrarem em ecstasy quando veem o presidente falando tudo aquilo que eles pensam, mas não podem falar livremente.

Por sua vez, essa suposta “infantilidade” de Bolsonaro alimenta a interpretação de que todos os problemas que assolam o Brasil de hoje (fome, desemprego, crise sanitária, destruição florestal, etc.) seriam oriundos da má gestão do presidente. Em outras palavras, o que explicaria as imagens da capa da revista Extra de pessoas se amontando para ficar com as sobras de um açougue não seria a enorme concentração fundiária e o que explicaria o litro da gasolina à sete reais não seria a adoção dos Preços de Paridade de Importação pela Petrobras; mas sim a própria figura do atual presidente. Dando mais atenção para a personalidade de Bolsonaro do que para o projeto político que ele encabeça, os opositores do governo caem não apenas na armadilha de acreditar que a retirada dele de Brasília virá acompanhada da solução de nossos problemas, mas também de que estes seriam novidades advindas do atual governo.

E é justamente essa ausência de uma discussão qualificada sobre o projeto do governo Bolsonaro que nos leva ao segundo aspecto das interpretações do momento que estamos vivendo como um “erro histórico”: uma incompreensão generalizada do que de fato é o Brasil. Longe de chegar na presidência por acidente, Bolsonaro cumpre a função de dar continuidade ao desmonte do pacto social que foi consagrado em 1988 com a promulgação da Constituição Cidadã. Após a ruptura institucional materializada no impeachment sem crime de responsabilidade contra a presidente Dilma Rousseff em 2016, e a implementação da Emenda Constitucional do Teto de Gastos e da Reforma Trabalhista pelo governo Temer; Bolsonaro segue o projeto de dissolução da tão almejada cidadania salarial dos governos petistas com as Reformas da Previdência e Administrativa, além das privatizações da Eletrobras, dos Correios e do afrouxamento das leis de proteção ambiental e do trabalho.

Esse rompimento com a promessa de inclusão dos mais pobres pelas vias do consumo não é algo que pode ser revertido com uma simples troca na direção do Estado, pois é justamente o padrão de luta de classes e a natureza do capitalismo dependente brasileiro que possibilitaram a realização do desmonte: o apoio de grandes empresários à agenda destruidora do governo comprava isto. Mas isso é ignorado pela esquerda da ordem, que deposita esperanças em Lula, principal candidato para as eleições de 2022 que, além de tirar fotos e tentar dialogar com os mesmos grupos que apoiaram o golpe contra Dilma, sua prisão sem provas e o projeto de Bolsonaro; não apresenta nenhum compromisso com a revogação do desmonte bolsonarista. Afirma que Bolsonaro é ruim, mas sem em nenhum momento apontar as raízes deste fato. Enfim, Bolsonaro não é burro, e está vencendo. E enquanto não deslocarmos o debate político da sua figura repugnante para o projeto político ao qual representa, ele seguirá vencendo.


Ver: https://www.onao.com.br/post/a-revolu%C3%A7%C3%A3o-burguesa-no-brasil e https://www.onao.com.br/post/a-independ%C3%AAncia-que-nunca-veio


Disponível em: https://valor.globo.com/politica/noticia/2021/04/07/em-jantar-com-empresrios-bolsonaro-critica-medidas-restritivas-covid-19.ghtml



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