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MERCOSUL: entre a dependência e a autonomia

Atualizado: 5 de fev. de 2021



Mariana Vázquez (2020) no vídeo “El Mercosur entre la autonomía y el libre comercio — Obiesur” trabalha os conceitos de unidade, autonomia e desenvolvimento, tentando resgatar o ponto em comum entre eles, apesar dos três conceitos corresponderem a momentos diferentes. A semelhança entre eles se encontra no partilhamento da utopia de uma “geografia que se revolta”, que supera a Divisão Internacional do Trabalho e a política internacional de manutenção da posição da periferia, além de estarem amplamente ligados à ideia de independência e descolonização.

Superar essa posição de dependência é algo muito caro para a região latino-americana frente ao fato de que existem cicatrizes resultantes das disputas imperialistas, existe ainda uma herança de estruturas produtivas configuradas segundo a necessidade do centro, estratégias de desenvolvimento que foram pensadas para a metrópole, existência de oligarquias com projeto nacional e até regional etc. Assim, a região é um espaço que vive uma disputa de projetos e múltiplas ideias sobre integração regional que se manifestam, também, em cada uma das etapas do processo de integração do MERCOSUL. Vázquez abre radicalmente o leque da questão e mostra que, a partir do histórico do maior bloco do Cone Sul, o processo de integração regional pode vir de um projeto de dependência que nem sempre visa à autonomia. A partir dessa premissa e tendo como objeto de estudo o processo de integração regional sul-americano, explora a dialética que o MERCOSUL encontra-se entre as ideias que surgem e as práticas concretas, ou seja, entre projetos que fortaleceram diversas formas de dependência e projetos que buscaram uma maior autonomia.

Vázquez assinala também um ponto extremamente importante que soma na reflexão sobre autonomia e livre comércio no MERCOSUL: o fato da convergência da onda progressista que se instalou na região no início dos anos 2000 junto a intensificação de ações autônomas, em detrimento da década de 90 e do período entre 2016 e 2019, marcados pela convergência neoliberal (consenso com a estratégia de inserção internacional da região).

O alinhamento dos governos progressistas e a busca por autonomia no bloco resulta em uma convergência autonomizante, ao passo que o alinhamento dos governos neoliberais resulta na manutenção do padrão histórico da região como produtora de matéria prima e bens com baixo valor agregado. A fim de exemplificar, Vázquez cita o Acordo Mercosul-União Europeia que, em sua visão, reforça a posição de dependência e assimetria.

Por fim, cabe ponderar a relação das diferentes estratégias de inserção internacional da região e a questão da identidade. Questionar o que justifica uma região que compartilha um passado de dependência, colonização e um papel na visão Divisão Internacional do Trabalho em comum, mas é tão refém de mudanças bruscas nas estratégias, alinhadas à convergência econômica e/ou política que depende da ascensão de governos com políticas de diferentes cunhos ideológicos que mudam o tom da resposta da região frente aos desafios do multilateralismo e da globalização.


Escrito por Lara Martins (llaramrtins@gmail.com)


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