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Guerra das Malvinas



Entenda o conflito

A Guerra das Malvinas foi um conflito por território entre Reino Unido e Argentina que aconteceu entre abril e junho de 1982. As ilhas Malvinas são um pequeno arquipélago remoto no Atlântico Sul com terreno irregular e costas repletas de penhascos. Suas centenas de ilhas e ilhotas abrigam fazendas de ovelhas e uma grande variedade de pássaros. A capital, Stanley, fica localizada na Malvina Oriental, a maior das ilhas.O território também possui posição geopolítica estratégica, pois é um berço para atividade pesqueira e exploração de jazidas de petróleo.

Desde 1883 as “Falklands” eram administradas pela Inglaterra. Entretanto, os argentinos nunca aceitaram o domínio britânico dada a proximidade do arquipélago com sua costa — que fica a 480km das ilhas. Aproveitando essa tensão histórica, o ditador argentino Leopoldo Galtieri lançou uma invasão às ilhas em 1982. No dia 2 de abril daquele ano, as tropas argentinas tomaram a capital Stanley.

Galtieri tinha razões políticas para a invasão. Em meio a uma sangrenta ditadura e acusações de má administração, rompimento com os direitos humanos e corrupção, o general viu na ocupação militar das Malvinas uma oportunidade para unir a nação em um frenesi patriótico e, de quebra, limpar a barra do governo militar. No entanto, o Reino Unido respondeu prontamente à invasão, enviando ao arquipélago aproximadamente 28 mil soldados, quase o triplo da tropa argentina, que cruzaram mais de 13 mil km pelo oceano Atlântico.

Ao contrário do que supunham os generais argentinos, os Estados Unidos não se mantiveram neutros, mas resolveram apoiar os britânicos, seus aliados na poderosa aliança militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), mostrando uma aproximação com a primeira-ministra, Margaret Thatcher,e fornecendo equipamento armamentista. O dia 2 de maio de 1982 é emblemático na Argentina, pois ele representa omomento de maior número de baixas no conflito: foram 368 homens mortos após o cruzador General Belgrano ser torpedeado por um submarino britânico de propulsão atômica. No total, o lado argentino sofreu 750 baixas, enquanto o lado britânico 256.

No âmbito regional, o Brasil prestou apoio logístico à Argentina para o abastecimento de armas soviéticas na Guerra das Malvinas. A posição do governo brasileiro foi manter a neutralidade — mesmo que em caráter imperfeito — tendendo a favor da Argentina, sem afetar negativamente as suas boas relações com o governo de Londres. O Brasil apoiou a soberania argentina sobre as ilhas Malvinas/Falklands, condenando apenas o uso de recursos bélicos. Quer liberal (sobretudo, junto aos Estados Unidos, Reino Unido e Argentina), quer multilateralmente — na Organização dos Estados Americanos (OEA) e na Organização das Nações Unidas (ONU) — o Brasil procurou exercer o papel de mediador no conflito. Além disso, como escreve Walsh (1997), o país buscou zelar por seus interesses multilaterais no âmbito do Conflito Leste-Oeste, do Diálogo Norte-Sul, do sistema interamericano e da Antártida.

As consequências do conflito reverberaram no governo militar argentino e, em prática, significaram o começo do seu fim. Apesar da invasão ter propiciado um curto período de popularidade à junta militar, que se esvaiu após a reação britânica, a crueldade da ditadura se estendeu até os campos de guerra. Posteriormente, relatos de jovens soldados argentinos mostraram um cenário de fome, frio e, principalmente, torturas e maus-tratos infringidos por seus próprios oficiais. Nos anos que se sucederam ao conflito foram registrados pelo menos 400 suicídios de ex-combatentes.

Para o governo Thatcher, por outro lado,os efeitos foram positivos. O conflito com os argentinos gerou popularidade e garantiu uma reeleição da primeira-ministra. Na Argentina, o general Leopoldo Galtieri renunciou três meses após a derrota. Após Galtieri, dois militares governaram por um curto período: Alfredo Oscar Saint-Jean e Reynaldo Bignone, que após um ano e meio entregaram o poder ao presidente civil Raul Alfonsín, que foi responsável por conduzir a transição democrática.

Hoje, a disputa pela soberania das Ilhas Malvinas continua mobilizando setores governamentais e políticos da Argentina e do Reino Unido. Tanto o país sul-americano quanto seu par europeu atuam constantemente em instâncias multilaterais globais, como a Organização das Nações Unidas (ONU), e regionais, como o Mercado Comum do Sul (Mercosul) e a União Europeia, em busca de uma solução. Ambos reivindicam o controle do arquipélago e tentam angariar apoio em diversos países. Nos últimos anos, a tensão entre os governos argentino e britânico foi acentuada pela realização de exercícios militares nas ilhas e pela exploração de hidrocarbonetos, patrocinada por empresas britânicas. A disputa, pelo que parece, está longe do fim.

REFERÊNCIAS

Memorial da Democracia. Ditadura argentina perde nas Malvinas. Disponível em <http://memorialdademocracia.com.br/card/ditadura-argentina-perde-nas-malvinas-1>

Merolla, Daniel. Malvinas: a guerra que há 30 anos ajudou Thatcher e derrubou a ditadura argentina. Revista Veja (Online), 28 de março de 2012. Disponível em <https://veja.abril.com.br/mundo/malvinas-a-guerra-que-ha-30-anos-ajudou-thatcher-e-derrubou-a-ditadura-argentina/>

Politize. Guerra das Malvinas: a disputa entre Argentina e Reino Unido. 2019. Disponível em <https://www.politize.com.br/guerra-das-malvinas/>

Walsh, Marcelo Vieira. A atuação do Brasil frente à crise das Malvinas/Falklands (1982). Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília, 1997. Disponível em <http://www.funag.gov.br/ipri/btd/index.php/10-dissertacoes/405-a-atuacao-do-brasil-frente-a-crise-das-malvinas-falklands-1982>


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