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Apontamentos sobre o bicentenário da independência do Brasil

Em 1822, o Imperador Dom Pedro I declarou a Independência do Brasil em relação a Portugal, simbolizado com o famoso grito "independência ou morte", às margens do riacho Ipiranga (apesar de, na realidade, ter ocorrido de forma muito mais modesta, em uma localidade diferente, porém próxima ao riacho). Essa independência, no entanto, pouco significou no cotidiano da jovem nação.

O ano de 2022 marca o bicentenário dessa independência controversa, trazendo consigo uma agenda urgente: Como vamos nos organizar diante das consequências de uma pandemia que já dura três anos? Quais projetos políticos serão eleitos para os mandatos legislativos e para o presidencial? Como resolveremos a insegurança alimentar de mais de 50% da população brasileira? Quando iremos encarar de frente o genocídio da população negra do país? Quando os direitos dos povos originários serão efetivamente garantidos? Quando o Brasil irá encarar a urgente situação da mudança climática e preservar seus ecossistemas?

É importante lembrarmos que o território entendido hoje como Brasil era uma vasta área de florestas complexas e minérios pouco explorados, além de abrigar uma fauna riquíssima e populações indígenas de diferentes etnias. Em 1500, portanto, não foi descoberto, foi invadido por uma expedição cujo objetivo era colonizar novas terras, e muito disputado não apenas por Portugal e Espanha, mas também por França e Holanda.

No entanto, a lógica colonizadora não ficou para trás. Apesar da crença do senso comum de que os problemas relativos a esse período foram superados com o passar do tempo, as consequências da exploração do trabalho de pessoas negras e indígenas escravizadas, da formação de uma economia voltada para atender interesses do mercado externo, do desmatamento desenfreado e da exploração intensa de metais preciosos fazem uma linha contínua do passado até os dias atuais da sociedade brasileira. E não é difícil enxergá-los: a Amazônia e o Pantanal (biomas de importância mundial) terrivelmente prejudicados, com milhões de hectares queimados; em 2020, mais de 6000 pessoas foram mortas pelas forças policiais do país, e os indígenas assistiram o Superior Tribunal Federal (STF) julgar seus direitos originários sobre os territórios protegidos pela Constituição Federal; além disso, o agronegócio utiliza mais de 50% das terras brasileiras, ocupando-as com gado e soja vendidos no mercado externo, enquanto a população procura restos de ossos nos mercados do país inteiro. Considerando, é claro, apenas fatores estruturais, sem contar a implicância disso na saúde física e psicológica da população, sendo que uma parte dessa passou os últimos dois anos sobrecarregada com o trabalho remoto enquanto a outra, colocando sua vida em risco com transportes públicos lotados e ambientes profissionais com orientações inadequadas diante de uma pandemia gravíssima.

Portanto, parece que o bicentenário da nossa Independência bate à porta e nos chama para a grande responsabilidade de criar o Brasil que queremos, participando ativamente dessa construção. A escolha de um projeto político capaz de compreender nossa pluralidade e nossa história é urgente e a boa notícia é que, apesar das enormes críticas passíveis de serem aplicadas ao nosso sistema democrático e suas instituições, as chances de transformá-lo estão em nossas mãos.







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