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Terrorismo na República Democrática do Congo no século XXI

Atualizado: 5 de out. de 2022

A República Democrática do Congo está localizada na África Central sendo o terceiro maior país do continente. Durante a sua história, o país foi, e ainda é, berço de diversas organizações terroristas que ameaçam sua estabilidade e soberania, tendo como alvos civis não muçulmanos, prisões e governantes locais. Marcado por instabilidade social, política e econômica, o Congo se encontra entre os cinco países que, sozinhos, concentram metade da taxa de mortalidade infantil do mundo, de acordo com a UNICEF. Com falta de investimento externo para movimentar a economia e empregar a população, além de conflitos armados constantes, a população se encontra amedrontada e é forçada a sair de suas casas em busca de segurança e estabilidade em países vizinhos. Por ser um país populoso, qualquer conflito armado tem o poder de movimentar uma grande massa populacional dentro do seu território e para países vizinhos, o que contribui significativamente para o aumento da instabilidade na região centro-africana.


Neste cenário histórico de conflito, inúmeras organizações terroristas já atuaram em solo congolês, mas desde os anos 1990, o grupo que recebeu mais destaque é conhecido pelo nome “Forças Democráticas Aliadas” (FDA), ou “ADF” (Allied Democratic Forces). Ele foi formado na década de noventa com o intuito de depor o presidente de Uganda, Yoweri Museveni, acusado pelo grupo de perseguir muçulmanos em seu território nacional. No entanto, a organização foi derrotada pelo exército da Uganda e seus membros coagidos a se realocarem no país vizinho, a República Democrática do Congo. Sendo considerado pelo governo de Uganda e dos Estados Unidos uma organização terrorista, com ligação ao Estado Islâmico, o ADF promove ataques constantes onde está inserido, forçando o deslocamento acelerado de pessoas dentro do território do Congo e para países de fronteira.


Desde 1996, ano de sua primeira ação terrorista, as Forças Democráticas Aliadas têm marcado uma longa e densa linha do tempo de ataques à paz e à sociedade civil. Mas, depois de 17 anos entre sequestros e assassinatos de civis, incluindo crianças, o grupo sofreu inúmeras perdas diante das tropas militares de Uganda, sendo forçado a atravessar a fronteira do país, se mobilizando no território congolês. Apesar da constante violência durante esse tempo, a ADF tem chamado muita atenção por conta de seus ataques de maior escala iniciados nos anos 2000, os quais têm como alvo prisões, instituições governamentais e políticos, além de civis considerados não muçulmanos. Por conta desta rápida mudança territorial das ADF para o território congolês, os holofotes se voltam aos novos ataques de grandes proporções, que vem colocando medo na comunidade internacional, demonstrado por meio da mobilização de tropas estadunidenses para auxiliar os capacetes azuis da ONU na mediação do conflito.

Em janeiro de 2013, as ADF realizaram seu primeiro atentado na República Democrática do Congo, sequestrando e executando 13 pessoas. A partir deste momento, começaram a tomar cidades ao norte do país, despertando alerta nas autoridades locais. A MONUSCO (Missão das Nações Unidas na República Democrática do Congo) foi fundada em 1999, e ao longo dos anos travou uma sangrenta guerra, juntamente com o exército da República Democrática do Congo, contra as ADF. Ambas as forças tiveram consideráveis perdas, e deve-se analisar que a entrada do exército da ONU pode ter sido um fator intensificador do conflito na região. Em 2018, houve ao menos 14 ataques, número que aumentou nos anos seguintes, juntamente com a violência. A maioria das vítimas fatais é civil e a população local é o grupo mais afetado. Todavia, no ano de 2021 surgiu um novo ator neste conflito, a embaixada dos Estados Unidos, que anunciou o envio de treinamento para as tropas da República Democrática do Congo, além de um compartilhamento de inteligência militar.

A notícia de que os Estado Unidos auxiliará o Congo contra a ADF, preocupa a comunidade internacional devido a um possível acirramento do combate uma vez que o presidente do país, Félix Tshisekedi, autorizou a entrada de armamento militar e de inteligência americana no território congolês. Um dos possíveis desdobramentos dessa intervenção estadunidense é o enfraquecimento da organização terrorista, o qual pode gerar um efeito calmante sobre os conflitos na região, na medida em que o deslocamento populacional pode ser diminuído e os ataques cessados por tempo indeterminado. Porém, tendo em conta que a presença de tropas da ONU estimulou o conflito, pode-se esperar que a resolução do cenário não aconteça de forma rápida com a ajuda americana. Hoje, o Congo vive um momento delicado em sua história, com ataques cada vez mais frequentes que começam a atingir instituições e normas públicas, como as eleições. Esses eventos também impulsionam um movimento migratório ativo, colocando em xeque a segurança da população residente, bem como políticos e governantes. Autores:

Vítor Assmann Castro - Residente do Rio Grande do Sul, é estudante de Relações Internacionais na Escola Superior de Propaganda e Marketing de Porto Alegre, onde cursa o seu terceiro semestre. Tem como interesse as áreas de geopolítica e diplomacia corporativa, setores onde pretende atuar já durante a sua graduação. | Instagram: vitoracastro22


Lorenzo Garcia Dunnwald - Catarinense, 19 anos, estudante de Relações Internacionais pela ESPM-SUL, interessado em comércio exterior e logística internacional, atualmente atuando na área de consultoria internacional. | Instagram: lorenzodunnwald


REFERÊNCIAS

16 são mortos em emboscada na República Democrática do Congo. G1, 2021.

Allied Democratic Forces: The Ugandan Rebels working with IS in DR Congo. BBC, 2021.

DR Congo accepts US military help against ADF militia

DRC soldiers clash with Ugandan militias. Africa Review.

República Democrática do Congo. Brasil Escola.

República Democrática do Congo. Escola Britannica.

THOMPSON, Jared. Examining Extremism - Allied Democratic Forces. CSIS, 2021.

U.S. Sending Soldiers to Congo to Train Army, Help Find Rebels Who Killed 9 in Attack. Newsweek, 2021.


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