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Speak Yourself: Como foi a trajetória do BTS até a ONU?

Atualizado: 28 de dez. de 2021



No matter who you are, where you are from, your skin color, your gender identity, just speak yourself. Find your name and find your voice by speaking yourself.


Trecho do discurso de Kim Nam-joon, líder do BTS, nas Nações Unidas em 2018.



Na última segunda-feira, os membros do grupo sul-coreano BTS - RM, Jin, Suga, J-Hope, Jimin, V e Jungkook - retornaram à Organização das Nações Unidas (ONU) para participar do SDG Moment, uma iniciativa vinculada a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável¹. Como já publicamos aqui no 'O Não', esta não é a primeira vez que o septeto participa de um evento na ONU: em 2018, o líder do grupo, Kim Nam-joon, discursou para dar visibilidade à campanha #EndViolence e marcar o lançamento da iniciativa Generation Unlimited, ambas da UNICEF; em 2020, em modalidade virtual, os integrantes falaram sobre os desafios provocados pela COVID-19 e o impacto da pandemia sobre a juventude, como convidados do Group of Friends of Solidarity for Global Health Security - uma iniciativa criada pela Coreia do Sul².

A terceira participação do Bangtan nas Nações Unidas, porém, é ainda mais especial, pois consolida a ascensão internacional do grupo na indústria musical e recobra sua importância para a diplomacia pública sul-coreana. Nos últimos oito anos, desde o debut em 2013, o BTS engajou milhões de fãs ao redor do mundo através de suas músicas e performances singulares. Nesse período, seu sucesso extrapolou os palcos, rompeu barreiras culturais e linguísticas e gerou grande impacto social – direta e indiretamente. Em 2020, por exemplo, as ARMYs³ se organizaram e doaram cerca de US$ 1 milhão para o Black Lives Matter igualando a quantia doada pelo grupo para o movimento antirracista; no mesmo ano, a convite da Academia de Enfermagem das Forças Armadas da Coreia, o septeto divulgou um vídeo agradecendo aos profissionais de saúde pelos esforços no combate à pandemia4. Já em 2021, um grupo de fãs da Indonésia promoveu um mutirão de vacinação contra a COVID-19 para 10 mil pessoas; no Brasil, a ONG Army Help The Planet desenvolve projetos de cunho social e ambiental junto ao Greenpeace. E estes são apenas alguns dos projetos e iniciativas que mostram a força internacional do BTS + ARMY.

Por outro lado, o reconhecimento em grandes e renomadas premiações musicais – como Asian Artist Awards, Gaon Chart Music Awards, Melon Music Awards, Mnet Asian Music Awards, American Music Awards e Billboard Music Awards – refletiu no aumento do prestígio social do grupo, sobretudo após o início do governo Moon Jae-In. Após emplacar três produções no ranking Billboard 200 (o EP The Most Beautiful Moment in Life, Pt. 2, o compilado The Most Beautiful Moment in Life: Young Forever e o álbum Wings)5 apenas três anos após sua estreia, o BTS recebeu uma condecoração do Ministério da Cultura, Esporte e Turismo durante a cerimônia do Prêmio de Cultura e Arte Popular da Coreia (2016)6. Dois anos depois, o grupo foi agraciado com a medalha da Ordem do Mérito Cultural Hwagwan (2018)7 concedida pelo presidente àqueles considerados “como tendo prestado serviços meritórios notáveis no campo da cultura e das artes, atendendo ao interesse de promover a cultura coreana"8. Em caráter local, atuam, desde 2017, como embaixadores honorários do turismo da cidade de Seoul, tendo lançado recentemente a campanha Your Seoul Goes On – que faz referência à música Life Goes On9.

O atual presidente sul-coreano, considerado um “grande fã do BTS”10, faz questão de destacar a importância do grupo, bem como da música e das artes em geral, para a diplomacia pública durante encontros com líderes mundiais11, como no caso do Korea-France Friendship Concert (2018) que celebrou a relação bilateral entre os países. A parceria entre o BTS e o governo nacional, no entanto, tem sido cada vez mais frequente em temáticas relacionadas aos jovens. No lançamento do Dia Nacional da Juventude da Coreia do Sul (2020), os membros do BTS foram apresentados como “líderes jovens” honorários12 com a responsabilidade de inspirar as gerações futuras.

A ocasião marcou a promulgação do Framework Act on Young Adults13 que estabeleceu, dentre outras coisas, a participação dos jovens em consultas e deliberações políticas nos governos estaduais e locais. Além disso, o documento reforçou o compromisso do governo em oferecer oportunidades justas em termos de moradia, estudo e trabalho, combater irregularidades relacionadas ao serviço militar, estabilizar o mercado imobiliário e apoiar financeiramente jovens autônomos e desempregados durante a pandemia – reforçando os princípios de justiça e equidade14.


Figura 1. O presidente Moon Jae-in recebe o BTS durante a cerimônia inaugural do Dia da Juventude na Casa Azul.

Fonte: Yonhap News.


Dada sua notória relevância nacional e internacional, e o impacto social que provoca em todo mundo, principalmente entre os jovens, o BTS tem buscado reverter sua influência positiva em visibilidade para a Coreia do Sul. Assim, com o objetivo de “expandir a comunicação com as gerações futuras em todo o mundo e atrair sua simpatia para as principais questões internacionais”15, “alargar os horizontes diplomáticos” e “melhorar a imagem da nação nas principais questões diplomáticas”, o grupo foi nomeado “Enviado Presidencial Especial para as Gerações Futuras e Cultura” pelo presidente Moon Jae-In. Os sete membros também receberam passaportes diplomáticos das mãos do chefe de Estado – um benefício concedido apenas à “funcionários do governo e seus familiares imediatos, além de enviados especiais que realizaram feitos notáveis para o país”. Com as novas credenciais, o BTS chegou à Nova York para participar do SDG Morment no decorrer da 76º Assembleia Geral da ONU.

No salão principal da organização, o septeto incrementou a liderança que vem exercendo nos últimos anos. Todos os membros discorreram, em coreano, sobre o impacto das mudanças climáticas, reforçaram a importância da vacinação para o retorno à normalidade no pós-pandemia e propuseram reflexões sobre a forma como a vida mudou nesses últimos dois anos através de relatos pessoais e imagens compartilhadas com as hashtags #Youth Today, #Your Stories que dialoga com a estratégia #Youth2030 – pensada para “orientar as Nações Unidas e seus parceiros a trabalhar de forma significativa com e para os jovens em todo o mundo, sob três pilares - paz e segurança, direitos humanos e desenvolvimento sustentável”16. Apesar do contexto adverso, provocado pela COVID-19, o grupo enfatizou a resiliência, a esperança e a dedicação de sua geração para construir um mundo melhor17. Por fim, eles apresentaram uma performance exclusiva e pré-gravada da canção Permission to Dance no prédio principal das Nações Unidas – com o intuito de divulgar uma mensagem de esperança para o mundo.

We thought the world has stopped, but it continues to move forward. I believe that every choice we make is the beginning of change, not the end. I hope that in this nascent new world we can all say to each other, "Welcome.


Trecho do discurso de Kim Nam-joon na ONU em 2021.



A passagem do BTS por Nova York não se restringiu ao púlpito da ONU, mas também lançou luz sobre outras contribuições artísticas e culturais sul-coreanas. Ao lado da primeira-dama, Kim Jung-sook, e do Ministro da Cultura, Hwang Hee, o grupo participou de um evento no Metropolitan Museum of Art, onde presentearam a instituição com uma peça do artista Chung Hae-cho, intitulada Rhythm of the Five Color Luster (2013) que integrará a exibição Shell and Resin: Korean Mother-of-Pearl and Lacquer do museu. No evento, o líder RM destacou o trabalho dos artesãos sul-coreanos e sua diversidade– reforçando, mais uma vez, os laços entre o trabalho do grupo e a divulgação da cultura sul-coreana.

Este pequeno recorte nos mostra que a união entre a música e a diplomacia vêm gerando bons frutos para a Coreia do Sul. A responsabilidade de liderar as gerações futuras, ser um exemplo positivo para a juventude e divulgar a cultura ao redor do mundo – tarefas atribuídas recentemente ao BTS – buscam canalizar a influência positiva do grupo, sua trajetória e mensagem para consolidar os principais pilares da diplomacia pública do país asiático relacionados, principalmente, com a história, a tradição e o desenvolvimento nacional. Isso também contribui, como já vimos, para a elevação do prestígio do país, o incremento de sua influência e do reconhecimento da Coreia por seus pares na comunidade global. Hoje, o governo sul-coreano conta com um aliado de peso nesta tarefa: Bangtan Sonyeondan.


Notas:


1 - A Agenda 2030 é “um plano de ação para as pessoas, o planeta e prosperidade, que busca fortalecer a paz universal. O plano indica 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e 169 metas, para erradicar a pobreza e promover vida digna para todos, dentro dos limites do planeta”. O documento foi adotado na Assembleia Geral da ONU em 2015. Mais informações em: http://www.agenda2030.org.br/sobre/






3 - Identidade do fandom do BTS.







9 - A canção, lançada em novembro de 2020, alcançou o 1º lugar no chart Billboard Hot 100, sendo a terceira a alcançar tal posição, depois de Dynamite e o remix Savage Love (Laxed – Siren Beat), uma parceria com Jason Derulo. O BTS ainda emplacou mais duas músicas no chart: Butter e Permission To Dance, ambas lançadas em 2021.








16 - “Uma estrutura abrangente para orientar toda a ONU à medida que intensifica seu trabalho com e para os jovens em seus três pilares - paz e segurança, direitos humanos e desenvolvimento sustentável - em todos os contextos. Busca fortalecer significativamente a capacidade da ONU de envolver os jovens e se beneficiar de seus pontos de vista, percepções e ideias. Visa garantir que o trabalho da ONU em questões da juventude seja realizado de maneira coordenada, coerente e holística”. Mais informações: https://www.unyouth2030.com/about








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