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OS PROTESTOS EM BELARUS E A REAÇÃO INTERNACIONAL

Atualizado: 5 de fev. de 2021



A REPÚBLICA DE BELARUS

A Bielorrússia, ou República de Belarus, declarou-se independente em 1991 após o fim da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), da qual fazia parte, e em 1994 adotou uma constituição democrática, tornando-se uma República Presidencial. No mesmo ano, foi eleito Alexandr Lukashenko, o único líder do país ao longo dos últimos 26 anos. Lukashenko controla a economia e os três poderes, é acusado de fraudar todas as eleições — exceto a de 1994 — e é considerado um ditador por diversos países ocidentais, organizações e analistas internacionais. Desse modo, apenas as eleições de 1994 são consideradas livres, justas e democráticas.

Desde que chegou ao poder, Lukashenko alterou a Constituição diversas vezes para que a sua reeleição fosse permitida ininterruptamente ao longo desses 26 anos. As eleições de 2010 e 2015 também geraram protestos e manifestações nas ruas, porém as de 2020 são de maior alcance tanto no que diz respeito ao número de cidades quanto ao número de manifestantes. Mas quem são essas pessoas? O que elas querem?

OS PROTESTOS

Os protestos atuais, apelidados de “Revolução do Chinelo” ou “Revolução AntiBarata”, começaram em 09 de agosto, após a reeleição de Alexandr Lukashenko com mais de 80% dos votos. Os seus adversários, que apresentaram pré-candidatura à presidência, foram presos ou fugiram após ameaças de prisão. Sendo assim, mais uma vez, as eleições são consideradas fraudulentas. Acontecendo há três meses, esses protestos são formados, em sua maioria, por manifestantes mulheres, opositores, entidades de direito civil, ex-funcionários do governo, ex-militares e grevistas que solicitam, dentre outras coisas, a renúncia de Lukashenko, eleições livres e democráticas, a libertação dos manifestantes que foram presos e também reclamam das políticas econômicas e sociais de Lukashenko.

Todo o descontentamento da população com essas políticas foi aflorado devido à forma que o bielorrusso reagiu à pandemia da COVID-19 (Belarus é o único país da Europa que não adotou o isolamento social) e, muito embora as manifestações tenham começado por causa da sua reeleição, elas se tornaram, também, manifestações de trabalhadores, grevistas, mulheres, estudantes e outros segmentos sociais reivindicando direitos.

Porém, desde que os protestos iniciaram, concomitantemente tiveram início as repressões policiais, como prisões arbitrárias, mortes sob circunstâncias suspeitas, relatos de torturas, detenção de manifestantes por motoristas encapuzados e com veículos sem identificação, dentre outras violências. Jornalistas relatam agressões e diversas equipes internacionais foram expulsas do país, sendo proibidas de cobrirem as manifestações que acontecem no território. Há relatos de que estudantes que participaram de manifestações foram presos e expulsos dos campuses nos quais estudavam.

As manifestações começaram em grandes centros urbanos, como na capital, Minsk, mas foram se estendendo por diversas cidades. Logo após o começo dos protestos, Lukashenko intensificou a sua defesa e pediu para que os militares estivessem prontos para agir, caso necessário.

A REAÇÃO INTERNACIONAL

Embora países como China e Rússia tenham reconhecido o resultado das eleições, os países ocidentais, em sua maioria, e os países vizinhos de Belarus, membros da OTAN, não a reconhecem como legítima, sendo Belarus considerada “a última ditadura da Europa”. A União Europeia, por exemplo, afirmou que as eleições “não foram livres, nem justas” e, para além de solicitar investigações, impôs sanções econômicas ao país. A Organização das Nações Unidas, após os relatos de perseguição e abusos policiais, também pediu investigação de tais atos. Se por um lado o Ocidente considera Belarus “a última ditadura da Europa”, Lukashenko e seus apoiadores acreditam que os países ocidentais que consideram seu governo uma ditadura o fazem porque querem tirá-lo do poder, já que Belarus é o último país da Europa que ainda mantém influências políticas e econômicas tais quais existiam na antiga URSS.

É importante salientar que, em questões geopolíticas, Belarus tem como países fronteirísticos membros da OTAN e a Federação Russa, o que faz com que esteja localizado no centro do conflito entre Ocidente e Rússia, tornando-se um país importante geopoliticamente. Belarus é o terceiro país do mundo que mais exporta potássio e possui um papel importante no transporte de petróleo e gás da Rússia para a Europa. Além disso, possui uma tecnologia de ponta na indústria de serviços, especialmente de tecnologia da informação.

Belarus e Rússia possuem relações estreitas desde a década de 1990, quando criaram o “Tratado de União”, o qual aprofunda as relações econômicas e militares entre os dois países e dá à Rússia respaldo jurídico para determinadas questões bielorrussas. Essa aliança entre os dois países dá-se devido à localização geográfica, laços culturais e históricos desde a ex-URSS. Assim, Lukashenko conta com o apoio da Rússia para se manter no poder, a qual já disponibilizou o exército para uma intervenção em Belarus, caso o bielorrusso julgue necessário.

Se por um lado Rússia e China consideram o governo de Lukashenko legítimo, por outro, os países do Ocidente, em geral, bem como algumas organizações internacionais, afirmam ser ilegítimo — sendo que muitos têm histórico de intervir em países considerados não democráticos.


REFERÊNCIAS

BBC NEWS. What’s happening in Belarus? Disponível em: https://www.bbc.com/news/world-europe-53799065. Acesso em: 26 nov. 2020. DW. Entenda os protestos em Belarus. Disponível em: https://www.dw.com/ptbr/entenda-os-protestos-em-belarus/a-54636597. Acesso em: 26 nov. 2020. EURONEWS. Belarus protests. Disponível em: https://www.euronews.com/tag/belarus-protests. Acesso em: 26 nov. 2020. FONDATION ROBERT SCHUMAN. Demonstrations in Belarus: Chronology of a revolution in progress. Disponível em: https://www.robertschuman.eu/en/doc/divers/Chronology_of_revolution_in_Belarus.pdf. Acesso em: 26 nov. 2020.


Escrito por Mainara Gomes (mainaragommes@hotmail.com)


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