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Olimpíadas e SoftPower

Por Mainara Gomes e Marcos Sordi


O soft power, segundo Joseph Nye, “é a habilidade do Estado moldar as preferências das outras nações, não apenas pela influência, como também pela habilidade de atraí-las e de obter seu consentimento sem fazer uso da força ou de outros meios coercitivos” (BELINI, UEHARA, 2020, p.2). Tal habilidade pode ser expressa de diversas formas, como é o caso do Japão, através das Olimpíadas, uma vez que os megaeventos esportivos podem ser benéficos aos países, por meio do soft power (CHA, 2009; GRIX, 2013 apud UEHARA, BELINI, 2020). O esporte, no geral, principalmente quando há eventos de grande porte, dá ao Estado uma possibilidade de renovar, influenciar, moldar a sua imagem perante o sistema internacional.

Para além de ser uma oportunidade de influenciar os outros países com os seus valores e ideais, as Olimpíadas também servem como uma forma de nation branding, isto é, um marketing, uma criação de uma marca, utilizada para promover o país e influenciar positivamente a percepção das pessoas a respeito da nação (FAN, 2006, apud UEHARA, BELINI, 2020). Frente ao cenário mundial repleto de mudanças constantes, o nation branding torna-se uma forma de responder ao aumento da concorrência internacional - que pode ser política, econômica, entre outras. “O seu principal objetivo consiste em construir, gerir e melhorar a imagem de um determinado Estado, através do recurso a técnicas de branding e marketing” (OLIVEIRA, 2017).

Dessa forma, os Estados que organizam e que sediam grandes eventos aproveitam-se da ocasião para moldar a sua imagem perante o sistema internacional, por meio do soft power e do nation branding (UEHARA, BELINI, 2020). Assim, mesmo que a competição tenha começado semana passada, o soft power envolvido e o nation branding envolvidos estão presentes antes mesmo do maior evento esportivo do mundo começar.

Em 1964, quando o Japão sediou as Olimpíadas pela primeira vez, as Olimpíadas foram utilizadas como uma forma de anunciar ao mundo uma nova identidade no pós-guerra, como uma nação pacifista, sem quaisquer interesses imperiais e como uma grande potência (CHA, 2016; COLLINS, 2010 apud UEHARA, BELINI, 2020; CANALI, 2021).

Já a competição atual, marcada, inicialmente, para 2020, teve de ser adiada para 2021, devido à pandemia global da COVID-19. Portanto, é um cenário bastante distinto daquele de 1964. Entretanto, há algo em comum: o Japão quer construir/alterar a sua imagem frente ao cenário internacional, visto que, embora a potência seja extremamente relevante no sistema internacional, principalmente no que diz respeito à importação e exportação, ainda possui uma imagem enfraquecida (UEHARA, BELINI, 2020).

Embora tenha trazido despesas econômicas à nação, devido às questões de infraestrutura, o evento é uma oportunidade de trazer ao Japão turistas, investidores, consumidores, melhorar suas relações diplomáticas com outros países, além de mostrar ao mundo que, apesar da pandemia, o país conseguiu superar as dificuldades e realizar o evento. Ou seja, o “modelo japonês” funcionou (UEHARA, BELINI, 2020; SAYURI, 2021; AU-YEUNG, 2021).

Outro mecanismo que tem sido utilizado pela nação para promover a sua marca, é o conceito conhecido como “Cool Japan”, uma estratégia utilizada desde o começo da década de 2000. De acordo com o documento “Cool Japan Strategy”, um dos objetivos é destacar os produtos nacionais, principalmente os da cultura pop - como games, mangás, animes, etc) para serem aceitos no exterior, criando/reforçando uma imagem da nação (CABINET OFFICE). Para as olimpíadas de 2021, o produto nacional é a alta tecnologia. Esse objetivo já se mostrou claro a partir das olimpíadas de 2016, quando da exibição de um vídeo que mostrava alguns atletas perto dos edifícios de Tóquio, um nadador que competia com um trem-bala, dentre outros (EASTON, 2016 apud UEHARA, BELINI, 2020). Nesse mesmo vídeo, há, ainda, a presença de inúmeros personagens famosos japoneses como: Hello Kitty, Capitão Tsubasa, Pac-man, etc (UEHARA, BELINI, 2020). Tanto que, podemos também citar o slogan de Tokyo 2020 que vai ao encontro dessa estratégia de alta tecnologia citada: Esporte pode mudar o mundo e o futuro (UEHARA, BELINI, 2020).

Desse modo, é possível visualizar que o governo japonês deposita grandes esperanças no legado de Tokyo 2020. E assim, como em 1964, o Japão espera mostrar ao mundo que sua identidade é tecnológica e futurista.



Fontes:








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