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O que é Justiça Climática e qual o papel das mulheres nesse tema

Por: Diego Andrade e Vittoria Horch



Aquecimento global, enchentes, furacões, nevascas mais intensas do que as de antigamente e novas epidemias. Será que tudo isso é mera coincidência ou efeito colateral das ações humanas?


Alguns problemas ambientais persistem há séculos; a teoria do efeito estufa, por exemplo, já possui mais de 150 anos. Contudo, os impasses climáticos não são os únicos a serem negligenciados, já que também possuímos dificuldades socioambientais. Neste sentido, é observável que todos os seres humanos sofrem com os efeitos dos problemas climáticos, mas o que muitas vezes não é dito é que alguns sofrem mais do que outros, isto é, as classes altas adequam-se e convivem melhor com os danos. Um exemplo é as enchentes na cidade de São Paulo. Observa-se que, quando um prédio de um milionário é lesado pela enchente, ele consegue rapidamente se recuperar; todavia, quando a casa de uma família da periferia é atingida, ela raramente consegue se recuperar; e, quando consegue leva uma vida toda para reconstruí-la. Além disso, é possível notar que as minorias, como a comunidade negra e as mulheres, são os grupos mais afetados por essa problemática, haja visto que compõem a maior parcela dos pobres na sociedade brasileira, de maneira que constituem a massa das classes mais baixas.

Martin Luther King Jr, pastor e ativista político estadunidense, disse que a injustiça em um lugar qualquer é capaz de danificar a justiça nos demais lugares. Sob esse viés, nota-se que a injustiça climática, em algum momento, atingirá toda a sociedade, de modo que ninguém estará a salvo de tal problemática. Ademais, Hannah Arendt, filósofa alemã, expõe que o poder não é propriedade de um indivíduo, mas é valorativamente coletivo, visto que depende de um grupo ou um conjunto de grupos para existir. Com base nesse ponto de vista, os grupos mais influentes determinam as relações de justiça, como aquilo que determina o bom ou o mau, o certo ou o errado, refletindo nos grupos menos influentes, como os mais pobres, na falta de condições e no preparo para enfrentar as diversas crises climáticas e problemas de saúde e meio ambiente.

Na questão de alterações climáticas, há muito debate sobre quem é mais afetado por essas mudanças. O termo justiça climática, utilizado para discutir essa questão, é a resposta do movimento internacional de justiça ambiental às alterações climáticas. Esse conceito explica que as alterações climáticas são uma questão complexa de justiça social, e não apenas um problema ambiental. O racismo, o classismo e o sexismo estão intrinsecamente vinculados às alterações climáticas, e essas questões não podem ser ignoradas. Assim, a justiça climática é um conceito que se refere às questões éticas e de direitos humanos, que surgem como consequência das alterações climáticas.

A justiça climática significa uma abordagem social no que se refere às alterações do clima, ao considerar a relação entre os grupos mais vulneráveis, que são os menos responsáveis pelas causas climáticas, e os impactos ambientais. A igualdade de gênero é o elemento central da justiça climática. Mulheres e meninas são, e continuarão a ser, o grupo mais vulnerável aos efeitos das mudanças climáticas e da degradação ambiental. As mulheres apresentam vulnerabilidades únicas às mudanças climáticas, como as biológicas, as culturais e as sociais. Isso porque, muitas vezes, elas são as que têm menos condições financeiras, recebem menos educação e não são, em sua maioria, envolvidas em decisões políticas acerca do assunto. Além disso, é frequentemente relatado que a carga de trabalho das mulheres duplica ou triplica na sequência de catástrofes, enquanto as suas condições de geração de rendimentos se deterioram.

Quando analisamos o contexto atual, vemos uma sociedade patriarcal, em que as mulheres estão em desvantagem em termos de recursos econômicos, educação de qualidade e não participação na maioria das decisões políticas. Com base nisso, na questão ambiental, as mulheres necessitam de mais atenção por serem o maior grupo entre a população mais pobre e por terem a maior taxa de mortalidade causada pelas alterações climáticas. Embora as mulheres sejam desproporcionalmente mais vulneráveis aos efeitos das alterações climáticas, o que pode exacerbar as disparidades de gênero existentes, elas também têm conhecimentos e competências singulares que podem ajudar a tornar a resposta às alterações climáticas mais eficaz e sustentável. Por conseguinte, é importante lembrar que as mulheres não são apenas vítimas das alterações climáticas, mas também são protagonistas na resolução do combate a essa crise.

Em conclusão, as mulheres são as mais afectadas pelas alterações climáticas, mas ao mesmo tempo são excluídas das decisões que mais afetam as suas vidas. Contudo, as políticas e instituições democráticas - chave para alcançar a justiça climática - devem prestar mais atenção às experiências das mulheres. Há muitas teorias para a resolução das problemáticas ambientais, mas, até o momento, nenhuma foi adotada por todos os países internacionalmente reconhecidos, embora a Organização das Nações Unidas (ONU) e outras organizações intergovernamentais entendam o contexto e os impasses atuais. Tais conflitualidades repercutirão, em grande parte, na vivência das gerações futuras, as quais precisarão ser incrivelmente responsáveis e diligentes, para que possam continuar convivendo de maneira sustentável. Para isso, compreende-se que a educação tem uma função essencial para os futuros feitos. Afinal, segundo Émile Durkheim, sociólogo alemão, a sociedade e cada meio social particular estabelecem seus objetivos segundo a educação que obtiveram. Conclui-se, nesse sentido, que ensinar sobre justiça climática, desenvolvimento sustentável e crescimento econômico consciente é o primeiro grande movimento para a resolução dos impasses.

REFERÊNCIAS


ARENDT, Hannah. Pensador. Disponível em: https://www.pensador.com/frase/MTE4NTA3Ng/. Acesso em: 9 de maio de 2022.


KING JR, Martin Luther. Pensador. Disponível em: https://www.pensador.com/frase/NjIxOA/. Acesso em: 9 de maio de 2022.


SANTANA, Luana. AS CONTRIBUIÇÕES DE ÉMILE DURKHEIM E KARL MARX PARA A EDUCAÇÃO. Brasil Escola. Disponível em: https://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/educacao/as-contribuicoes-emile-durkheim-karl-marx-para-educacao.htm. Acesso em: 9 de maio de 2022.


REVELO, Lorena A. La igualdad de género ante el cambio climático: ¿qué pueden hacer los mecanismos para el adelanto de las mujeres de América Latina y el Caribe?. In: Asuntos de Género, N° 159 (LC/TS.2021/79), Santiago, Comisión Económica para América Latina y el Caribe (CEPAL), 2021.


ARORA-JONSSON, Seema. Virtue and Vulnerability: Discourses on women, gender and climate change. In: Global Environmental Change. Amsterdam: Elsevier B.V, Volume 21, edição 2, 2011, Maio. p. 744-751.


HABTEZION, Senay. UNDP. Gender and Climate Change: Overview of Linkages Between Gender and Climate Change. Policy Brief, 2012.


TERRY, Geraldine. Climate Change and Gender Justice. Oxford: Oxfam GB, 2009.


What is Climate Change? A really simple guide. BBC News, 2021. Disponível em: https://www.bbc.com/news/science-environment-24021772. Acesso em: 6 de maio de 2022.


ALVARENGA, Renata K. Igualdade de Gênero e Ação Contra as Mudanças Climáticas. Empodera Clima, 2019. Disponível em: https://www.empoderaclima.org/pt/base-de-dados/artigos/igualdade-de-genero-e-acao-contra-as-mudancas-climaticas. Acesso em: 6 de maio de 2002.



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