Texto escrito por Rafael Vieira
Lançada em 2017 na plataforma Hulu, O Conto da Aia é uma série criada por Bruce Miller com base no premiado romance distópico homônimo escrito por Margaret Atwood e publicado pela primeira vez em 1985.
Como a série, ganhadora de um Emmy, pode nos ajudar a compreender melhor o caráter distópico do nosso presente? Vamos então, através de um olhar internacionalista das temáticas abordadas na obra, vislumbrar isso.
Entendendo O Conto da Aia
O Conto da Aia é uma série ambientada em um futuro distópico no qual uma significativa porção dos Estados Unidos passa a ser governada por um impiedoso regime ditatorial ancorado em uma interpretação fundamentalista da religião cristã.
A série consegue unir em sua trama uma diversidade de temas complexos das ciências humanas: feminismo, totalitarismo, a relação entre religião e política, racismo e direitos humanos. Através dessa interligação temática, a série conseguiu agradar tanto os fãs do livro como transcender os limites da obra original, alcançando novos públicos.
Porém, nesse mar de temas e de reflexões, um em especial se destaca por conseguir unir todos os outros dentro do seu escopo. São os direitos humanos e sua faceta enfatizadora da subjugação histórica e presente das mulheres que carregam com maior significado a temática central da série.
Como a distopia de O Conto da Aia ilustra o nosso presente?
Um presente distópico
A protagonista da série se chama Offred e seu nome significa que ela pertence a alguém chamado Fred. Na série, as mulheres férteis são escravizadas sexualmente e passam a ser servas — aias —, sendo utilizadas para reprodução por seus “donos”.
Tudo começa com um golpe de Estado que homens brancos caucasianos implementam no país, estabelecendo a República de Gilead, que prende mulheres brancas para treiná-las como servas que irão criar a nova geração de brancos, em uma mistura de misoginia, patriarcado e racismo.
No presente, temos não só a crescente onda de nacionalismo branco pelo mundo e em particular nos Estados Unidos, mas também uma paralela onda de misoginia e relativização dos direitos humanos para uma diversidade de grupos: mulheres, pessoas LGBT+, imigrantes etc.
A tragédia do presente é se olhar no espelho e enxergar com profunda exatidão a sua forma numa distopia televisiva. Desta forma, que lições podemos tirar dessa série para compreender e superar um presente tão lúgubre?
Lições para o futuro
A obra de Margaret Atwood e a série de Bruce Miller compartilham a mesma ênfase na empatia como elemento capaz de despertar a atenção necessária para a defesa dos direitos humanos no geral e, em particular, os direitos das mulheres.
Apesar de permeada de cenas fortes, reflexões pesadas e de crueldade e violência, a série traz no meio do desespero uma mensagem de esperança, que se constrói gradualmente e que, nas rédeas da empatia, é capaz de transcender, através do despertar para mudanças estruturais, os limites impostos por ideologias, governos totalitários ou quaisquer obstáculos à paz e ao cumprimento dos direitos universais à humanidade.
No fim das contas, a lição para o futuro que O Conto da Aia nos dá é a de que a empatia precisa infectar a sociedade antes que as mudanças reais, que irão nos tirar de um presente distópico, aconteçam.
Sobre o autor: Graduando em Relações Internacionais no Centro Universitário Jorge Amado (Salvador/BA). Faz análises que misturam cinema, cultura pop e literatura com as Relações Internacionais em @raffzvieira.
Instagram: https://www.instagram.com/raffzvieira/
Referências:
ATWOOD, Margaret. O conto da aia. Rio de Janeiro: Rocco, 2017.