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BBB & RELAÇÕES INTERNACIONAIS: Cultura de Massa e os Internacionalistas



Todo início de uma nova temporada do Big Brother Brasil, principalmente na edição atual e na última, por conta do altíssimo ibope recuperado, uma discussão vem à tona: o debate de alta e baixa cultura. Para Umberto Eco, criador desses conceitos culturais, o programa pode ser visto como um exemplo de produto cultural de baixa qualidade, já que pode ser consumido de forma dispersa. Além disso, a construção de um enredo com base na aprovação pública e com um orçamento que se iguala a grandes produções audiovisuais acabaram atraindo a atenção de “gente da cultura” que procurava entender o segredo do sucesso do projeto.

Mas o que pretendemos abordar aqui é uma espécie de preconceito pelo consumo desse produto cultural de massas e como é inconsistente essa acusação de que somente pessoas alienadas e desinteressadas na realidade assistem esse exemplo de espetáculo midiático sobre pessoas que “não tem nada a ver com você”. Aliás, também será sobre nós, internacionalistas, profissionais que essencialmente são bem informados sobre tudo que acontece na política, economia, cultura e temas sociais, e ao mesmo tempo podemos parar e assistir um programa como o BBB. É, sem dúvida, um ambiente riquíssimo de exemplos reduzidos (ao tamanho da casa) das relações sociais que podem representar grupos, classes, indivíduos e até Estados Nacionais, como foi descrito no primeiro texto desta série Perspectivas do reality nas Relações Internacionais.

Mas então só por fazermos essas análises e ponderações somos então “gente da cultura”? ou perdemos esse título ao admitirmos que assistimos ao Big Brother? Perceba que parece até uma taxação meio classista, que aponta o dedo para aqueles que consomem um entretenimento de massa, apesar desse mesmo produto refletir de diversas formas no debate público do lado de fora, principalmente no que tange à emancipação de minorias e conquistas de direitos sociais.

Podemos ir além, trazer abordagens e críticas (sim, críticas) muito bem fundamentadas sobre os inúmeros problemas que se apresentam dentro de uma casa com alguns jovens adultos, assim como a forma na qual a emissora detém todo o controle do que ocorre lá dentro, coordenando o show. Pode-se colocar a partir daí uma discussão sobre privatização, controle ou até cooptação das pautas que estão em alta hoje por parte da Rede Globo, mas isso é foco para outro texto.

Finalizo com a fala de Bruno Campanella, um dos primeiros e mais premiados pesquisadores sobre o reality: “Penso que tentar provar que o programa é bom ou ruim não nos ajuda a entender o fenômeno. O Big Brother fez sucesso no mundo todo quando foi lançado, mas em nenhum lugar ele continua causando tanto impacto quanto no Brasil. Isso não é coincidência. De alguma forma, as dinâmicas na casa despertam paixões, algumas ligeiras, outras nem tanto, que as pessoas sentem necessidade de discutir. E isso parece ser particularmente forte no Brasil. Acho importante tentarmos entender as razões disso”.

Mas se após toda essas linhas você acredita que a relação entre telespectador/consumidor do BBB é única e exclusivamente uma relação de alienação, e que não pode ser um meio de despertar temas necessários para a sociedade, recomendo a reflexão junto a Umberto Eco, que ao defender a cultura de massa e esclarecer que ela não quer substituir a cultura dita superior, ele cita que “o homem que assobia Beethoven porque o ouviu pelo rádio já é um homem que, embora ao simples nível da melodia, se aproximou de Beethoven” (Eco, 2004, p.45).

Referências

CAMPANELLA, Bruno. Os olhos do Grande Irmão: uma etnografia dos fãs do Big Brother Brasil. Porto Alegre: Editora Sulina, 2012.

ECO, Umberto (org.). História da Beleza. Rio de Janeiro: Record, 2004


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