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As FARC e o Plano Colômbia: Organização terrorista?

Atualizado: 25 de jan. de 2022

Por Bruna Ballestero e Giulia Berro


Durante a década de 1960, a sociedade colombiana estava dividida: o círculo de poder político do país se concentrava nas mãos da elite, assim como a propriedade da terra, enquanto os interesses das classes mais baixas haviam sido esquecidos por décadas, especialmente da área rural, que na época representava cerca de 55% da população. Nessa época, surgiu o movimento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC), organização que inicialmente defendia a reforma agrária, o acesso à propriedade da terra e a constituição de um Estado com ideais socialistas, enfatizando seu caráter progressista inspirado pelo sucesso de Castro na Revolução Cubana (1953-1959).

No início, as atividades do grupo guerrilheiro eram financiadas principalmente pelo governo cubano, além de enormes somas de dinheiro angariadas através de sequestros de políticos e membros da elite colombiana. Em um dos episódios de maior repercussão, as FARC sequestraram a candidata à presidência Ingrid Betancourt em 2002. O grupo a manteve até 2008, quando as forças colombianas a resgataram junto a outros doze reféns. Contudo, surgiram divergências em relação a sua atuação desde a criação da Secretaria, uma forma interna de liderança, e a adoção da nova nomenclatura FARC-EP que se refere às Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia - Exército Popular. Se, por um lado, a organização começou a crescer como nunca tanto física como financeiramente; por outro, sua popularidade diminuiu acentuadamente perante a população. Em função de sua associação com o tráfico de drogas para ganho financeiro e com crimes cada vez mais violentos, as FARC foram reconhecidas tanto como uma ameaça ao Estado colombiano quanto uma ameaça internacional.

Até o encerramento de suas atividades paramilitares, as FARC se consolidaram como o maior e mais antigo grupo entre os revolucionários de esquerda colombianos e uma das mais opulentas guerrilhas armadas do mundo. A influência e o território da organização cresceram com o seu envolvimento no tráfico de drogas e, ao final da década de 1990, os quase vinte mil membros das FARC controlavam cerca de 40% da Colômbia. No início dos anos 2000, a Colômbia fornecia cerca de 90% da cocaína do mundo, e a produção, a tributação e o tráfico de narcóticos ilícitos patrocinaram grande parte da receita das FARC. Os crescentes atos de violência, sequestro e extorsão dos grupos acabaram levando Washington a rotulá-los como organizações terroristas estrangeiras, o que desencadeou uma parceria militar e diplomática de quase duas décadas entre EUA e Colômbia para combatê-los.

Em 2000, os legisladores dos EUA aprovaram o Plano Colômbia, um pacote de ajuda que visava auxiliar o país a combater a violência da guerrilha, fortalecer suas instituições e conter a produção e o tráfico de drogas. Até 2016, os Estados Unidos gastaram mais de 10 bilhões de dólares financiando e treinando as forças de segurança da Colômbia e promovendo a paz e o desenvolvimento econômico nos marcos do Plano, com o objetivo de contribuir para o aumento da segurança regional nos Andes. Por condicionar sua ajuda econômica à elaboração de uma estratégia de combate ao narcotráfico, os EUA fizeram com que o Plano abrigasse forte componente militar e policial. Nas eleições de 2002, o presidente Álvaro Uribe se comprometeu a assumir uma postura ofensiva de “linha dura” contra a guerrilha e a colaborar com a estratégia norte-americana. À medida que seu governo reprimiu os grupos rebeldes de esquerda, a violência caiu drasticamente: os homicídios diminuíram 40% e os sequestros 80% durante o primeiro mandato de Uribe.

No mundo pós 11 de setembro, as FARC tinham presença destacada na lista estadunidense de organizações terroristas estrangeiras. Em 2002, o governo Bush passou a revisar as políticas implementadas com o Plano Colômbia de modo a transformar a guerra às drogas em uma guerra contra o terrorismo, o que, no contexto colombiano, significava implementar uma estratégia de contrainsurgência. O governo de Uribe recebeu acusações de organizações internacionais de violação de direitos humanos, mas alguns argumentam que sua repressão lançou as bases para o início de negociações de paz com as FARC em 2012. Neste ano, o grupo já havia sido reduzido para sete mil membros, principalmente em função de deserções em massa e de mortes em conflitos armados, segundo o governo colombiano.

Em uma ocasião histórica que concluiu quatro anos de negociações, as FARC e o governo colombiano, sob o mandato de Juan Manuel Santos, assinaram um acordo de paz duradoura em 2016, com o objetivo de encerrar mais de meio século de conflitos armados que acumularam mais de 260 mil óbitos. Esse acordo estabeleceu o desarmamento e o cessar-fogo imediato, além de penas bem definidas a serem aplicadas aos ex-membros da guerrilha. As FARC, por sua vez, passaram a ser reconhecidas como um partido político legítimo, com dez assentos assegurados no Congresso até 2026, e os membros que haviam cometido crimes menores receberam anistia. Com estas demandas em vigor, os guerrilheiros se direcionaram às zonas de desmobilização espalhadas pelo país e entregaram suas armas, concluindo em abril de 2017 o desarmamento completo. Quatro anos depois, em 2021, Joe Biden, atual presidente dos EUA, removeu as FARC da lista de organizações terroristas estrangeiras do Departamento de Estado, na qual elas estavam desde 1997.

Iván Duque tomou posse como presidente da Colômbia em 2018, citando a violência contínua do grupo e o descumprimento de acordos feitos durante o governo de Santos. Já em 2019, Duque enfrenta um crescente descontentamento público com a corrupção do governo, suas propostas de reforma tributária e sua falta de apoio ao acordo de paz de 2016. Portanto, protestos esporádicos ocorrem em todo o país à medida que o índice de aprovação de presidente despenca, levando a uma renovação da violência política de grupos dissidentes das FARC que rejeitam os acordos negociados com o governo.


REFERÊNCIAS


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