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Adeus, Lenin!

A incrível criação do cineasta alemão Wolfgang Becker, nomeada ´´Adeus, Lênin!´´(2003), trata-se de um filme que apresenta, de forma criativa e bem-humorada, a difícil realidade da Alemanha em tempos de sua reunificação, após a ocorrência de um dos mais importantes eventos da política internacional: a queda do Muro de Berlim. E, por ter de fato vivido esse contexto como um morador da parte Ocidental da cidade Berlim, Becker é capaz de narrar o referido período de uma forma emocionante e cômica, ao usufruir de sua experiência e genialidade.


Veremos que tal episódio, concretizado no dia nove de novembro de 1989, não deve ser interpretado como um simples fenômeno físico, uma vez que representou o fim de um grande embate ideológico travado entre poderosas forças políticas. No entanto, antes que venhamos a conhecer propriamente o filme, devemos, primeiramente, nos atentar aos fatores de suma importância para a construção de sua narrativa, por meio de uma breve contextualização do período em questão.


Com o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, o ´´Eixo´´ - grupo que representava, inicialmente, a aliança entre países como o Japão, a Itália e a Alemanha - foi derrotado pela ´´Aliança´´, formada por países como os Estados Unidos, a França, a Inglaterra e a União Soviética (URSS).


Após essa derrota evidente, o território alemão foi dividido entre as nações vitoriosas, de modo a evitar uma possível insurgência. Todavia, a fragmentação do território em questão trouxe grandes mudanças para a Alemanha e sua população, uma vez que a URSS adotava diferentes regimes políticos e econômicos dos outros países da Aliança.


Dessa forma, em maio de 1949, é oficialmente instituída a República Federal da Alemanha (RFA), por meio da Lei Fundamental, aprovada pelo Conselho Parlamentar dos Aliados Ocidentais, disseminando o capitalismo . Já a URSS, responsável pela porção leste do território alemão, instituiu em outubro do mesmo ano, a República Democrática Alemã (RDA), tendo como capital a cidade de Berlim Oriental e adotou o regime socialista, e, mais tarde, em agosto de 1961, iniciou a construção do muro conhecido por segregar a cidade em duas porções.

E é neste contexto intenso que o filme se inicia, especificamente, com a fuga do pai de Alexander -personagem central do filme- para Berlim Ocidental. Com isso, a vida da família é bruscamente alterada, visto que, ao ser abandonada, a mãe de Alexander decide dedicar-se completamente ao socialismo, e suas contribuições ao partido a levam a ser homenageada pelos soviéticos. No entanto, posteriormente, ela sofre um ataque cardíaco ao ver o filho sendo preso em um protesto contra o regime vigente, levando-a ao coma.


Ao longo dos oito meses em que ela fica desacordada, Alex narra as grandes mudanças que aconteceram no país devido à queda do Muro de Berlim, assim como a crise e a dissolução da União Soviética. No momento em que ela acorda, o filho é alertado pelo médico que fortes emoções poderiam provocar a morte da mulher que ainda possuía um quadro de saúde preocupante. Mas como evitar notícias impactantes em um dos momentos mais conturbados da história da Alemanha? Foi esse o dilema que o nosso protagonista teve que enfrentar.


Diante disso, o filho da fervorosa socialista recuperou vários elementos que costumavam compor o cenário instaurado pela República Democrática Alemã, a fim de omitir a propagação do capitalismo na Alemanha. Dessa forma, o protagonista se esforçou demasiadamente para que a antiga Berlim Oriental ainda existisse em um pequeno espaço da capital: o quarto de sua mãe.


É sob essas circunstâncias que o filme demonstra as diferenças gritantes entre os dois regimes, em relação aos tipos de vestimenta, de comportamento, de moeda ou capacidade financeira e entre os tipos de produtos disponibilizados para a população, como quando a mãe de Alex pede ao filho um pote de picles. O protagonista encontra muita dificuldade em atender a esse simples pedido, já que, na produção capitalista, as jarras de picles carregam o nome de produtos internacionalizados e não daqueles que costumavam ser admitidos pela URSS.


Assim, concluo que apesar do nome da obra poder sugerir um sentido pejorativo a imagem de Lênin, ao indicar certo alívio com a ausência desse líder, é fácil perceber que não é isso o que o filme realmente pretende demonstrar. Pelo contrário, já que no final do filme, Alexander idealiza para sua mãe uma versão da unificação alemã onde o capitalismo fracassou, deixando claro que os pontos negativos ocorridos na Alemanha Oriental, como a censura, não correspondem ao legado deixado por Lênin.



Por essa perspectiva, o socialismo teria fracassado devido à ganância dos políticos, que deixaram de pensar de forma coletiva, esquecendo da classe trabalhadora. Ainda, o filme destaca que o socialismo não é sobre viver atrás de um muro, mas sim, viver com os outros. Finalmente, depois de demonstrar as contradições presentes nas duas ideologias políticas aqui apresentadas, o filme termina com a esperança de tempos melhores e mais justos.


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