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A arte de amar

Por Mainara Gomes






O filme “A arte de Amar” se passa na Polônia comunista da década de 1970 e foi dirigido por Maria Sadowska. Narra a história de Michalina Wislocka, uma ginecologista, que escreve um livro sobre o prazer e a sexualidade feminina e trava uma luta contra o Estado e a Igreja para conseguir publicá-lo. Embora o país tivesse um regime comunista, havia a defesa “da moral e dos bons costumes” pelo Estado e, principalmente, pela Igreja Católica, que ainda impunha as suas crenças como dominantes.

Durante todo o filme, é evidenciado como Wislocka enfrenta essa dificuldade e mostra que, para ela, o empecilho é ainda maior pelo fato de ser uma mulher tratando sobre temas que são considerados tabus. Embora ela fosse ginecologista e tivesse conhecimentos acerca do assunto, ela não tinha credibilidade e legitimidade para tal, pois era uma mulher e, além disso, seria uma “revolução sexual” que enfrentaria a dominância masculina e a ideia de que só homens podiam sentir prazer. O longa mostra, assim, uma mulher destemida, que enfrenta a estrutura patriarcal, machista e religiosa do regime, que interfere no íntimo das pessoas. Exibe como uma sociedade falocêntrica e patriarcal reserva às mulheres o papel de donas de casa e reprodutoras, não possuindo o direito de sentir prazer.

A ginecologista reconhece que, para manter a ideia de que a mulher deve reproduzir, os corpos femininos devem ser controlados e propriedades do Estado e da Igreja. Dessa forma, o prazer sexual é negado à mulher. Ela possui um consultório no qual atende mulheres que as procuram por diversos problemas com os companheiros e, por isso, ela sempre tentava mostrar para essas mulheres o clitóris (que muitas nem conheciam) e o poder que ele tem no que tange ao prazer feminino.

Além disso, o filme mostra o tabu existente sobre o órgão genital feminino que, muitas vezes, quando tem seu nome pronunciado, assusta. O filme também mostra que muitas mulheres não tinham sequer conhecimento da estrutura da vagina, evidenciando a repressão sexual em torno das mulheres e como lutar pela igualdade sexual é considerado um afronte aos costumes tradicionais. Wislocka defendia o uso de contraceptivos e a ideia de que o sexo não deveria ser uma obrigação e afirmava que era possível ambos os sexos sentirem prazer nas relações sexuais, indo, mais uma vez, de encontro à “moral” cristã. Outro estudo realizado pela médica é sobre a menopausa — uma descoberta da época -, o qual não era considerado importante, pois não interessava “a maioria”, ou seja, aos homens.

“A arte de amar” evidencia questões que, até hoje, são consideradas tabus e, principalmente, o prazer feminino. Assim, o longa, embora retrate uma sociedade da década de 1970, é bastante atual. As mulheres, ainda hoje, têm a sua sexualidade reprimida pelo Estado, pela Igreja e pela “moral cristã”. A igualdade sexual, o prazer feminino, a vagina e o sexo ainda são considerados tabus na sociedade do século XXI.


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