Ano após ano, em 26 de setembro, muitas organizações, coletivos, diretórios acadêmicos, departamentos, institutos profissionais e estudantes de Relações Internacionais no Brasil celebram o Dia do Internacionalista ou Dia do Analista Internacional. A homenagem é legítima e serve ao necessário propósito de dar visibilidade à categoria, mas, afinal, qual a sua origem?
É intrigante notar como a maioria dos textos e postagens nas redes sociais não apresenta nenhum histórico ou justificativa para a escolha da data. Mesmo entre as publicações de perfis e sites oficiais de instituições de ensino e entidades reconhecidas na área de Relações Internacionais (e fora dela também) há pouquíssimos dados disponíveis sobre o tema. Façamos, então, um breve exercício de recapitulação para tentar chegar à provável causa, circunstância e/ou lugar de proveniência.
Nem todos os cursos de graduação contam com uma matéria de História das Relações Internacionais e, quando a oferta existe, ela não fala propriamente da trajetória da disciplina, mas da origem do que os (não) internacionalistas conhecem como Sistema Internacional: formação dos Estados modernos, criação das principais organizações internacionais etc.
A disciplina deriva da Ciência Política e constitui-se como um campo de estudos independente no final da Primeira Guerra Mundial. Chamada também de International Politics, International Affairs ou ainda de International Studies, as RI, como matéria, se propunha responder àquela questão central que aprendemos no primeiro período da graduação: por que as guerras acontecem e como alcançar a paz?
Essa pergunta já se desdobrou em muitas outras ao longo dos anos, é claro. Mas, à época da fundação das RI, era a mais urgente e a que fazia mais sentido para quem a formulou. E aqui já precisamos atentar para o seguinte: a primeira cátedra de Relações Internacionais surgiu em 1919, no País de Gales. A Cadeira Woodrow Wilson de Política Internacional pertence à Universidade de Aberystwyth e homenageia o ex-presidente dos Estados Unidos que redigiu os Catorze Pontos para a Paz, considerados basilares para a criação da Liga das Nações.
Outras (várias) fontes que citam a Chatham House - outrora The Royal Institute of International Affairs, sediado em Londres - como a primeira organização a lecionar Relações Internacionais de forma independente, estão, portanto, equivocadas. Porque, apesar de fundada no mesmo ano que a Cátedra Woodrow Wilson, sua aula inaugural só aconteceria em 5 de julho de 1920. Fato é que nenhuma das instituições traz em suas respectivas Linhas do Tempo qualquer menção ao dia 26 ou mesmo ao mês de setembro como marco do início de suas atividades.
No Brasil, o primeiro curso de Relações Internacionais foi criado em 1974, na Universidade de Brasília. Dois anos depois, foi regulamentado por Lei Federal e desde então a área se expandiu consideravelmente, sobretudo entre os anos 2003 e 2010. O interesse crescente dos jovens estudantes pela carreira em Relações Internacionais não foi acompanhado de uma absorção proporcional dos profissionais recém-formados pelo mercado de trabalho, no entanto. Há várias razões para isso; contudo, nos deteremos naquela cuja conexão é mais direta com nosso exercício investigativo: a ausência de uma lei que regulamente a profissão.
Também não é ponto pacífico que essa regulamentação deva acontecer (e os argumentos pró e contra ficarão para outro texto), mas houve alguns movimentos importantes nesse sentido. Em 2020, o profissional de RI foi listado na Classificação Brasileira de Ocupações, o que significou o reconhecimento oficial das Relações Internacionais como uma profissão. Mas nada na iniciativa junto ao Ministério da Economia faz alusão ao dia 26 de setembro. Na verdade, profissionais e estudantes de RI envolvidos nesse movimento pela CBO criaram uma petição pública para que o Dia Nacional do Internacionalista fosse celebrado em...15 de março. Uma justa e merecida homenagem ao diplomata (e pisciano) brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Bem, o dia 26 de setembro seria, então, o Dia Internacional do Internacionalista? Nenhuma fonte consultada para a escrita desse texto confirma essa tese.
Completo dez anos de RI em 2021. E, claro, já fiz essa pergunta sobre qual a origem do dia do internacionalista a muitos colegas e professores. Andre Sena, um mestre a quem muito admiro, me respondeu que é por conta do começo da disciplina no Reino Unido. Eu voto com o relator. Isto porque, via de regra, o semestre letivo na Europa se inicia no mês de setembro. Restaria a dúvida quanto a escolha do dia, porém.
Em 2013, a Assembleia Geral da ONU escolheu 26 de setembro como Dia Internacional pela Eliminação Total das Armas Nucleares - o maior dos temores humanos quando pensamos em uma guerra de grandes proporções, certo? Guerras essas que o internacionalista trabalha para evitar, certo? Talvez tenha sido uma combinação de marcos internacionais que acabou dando origem ao nosso tão esperado e festejado dia. Faz algum sentido, mas devo confessar que não tenho provas, apenas convicções. A maior delas é que as Relações Internacionais se provam cada vez mais necessárias para a compreensão e transformação do mundo. E que sorte a nossa gostar tanto de RI, não é?
Feliz Dia do (Não) Internacionalista!
Se você souber de outra provável origem da data, nos conte nos comentários!
Texto por Tainah Pereira
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