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25 de Julho: Mês de Terezas, Lélias e Vilmas

No ano de 1992, em Santo Domingo, República Dominicana, foi realizado o 1º Encontro de Mulheres Afro-latino-americanas e Afro-caribenhas. Entre os dias 19 e 25 de julho daquele ano mulheres negras de mais de 70 nacionalidades reuniram-se para refletir sobre a condição feminina na região, que tem quinze dos vinte e cinco países com índices mais altos de violências contra as mulheres, incluindo o Brasil, quinto no ranking mundial de feminicídios, de acordo com a Organização Mundial da Saúde.

A necessidade de uma reunião a parte advém da dificuldade do movimento feminista incorporar as pautas e, sobretudo, priorizar as necessidades de mulheres negras nas agendas locais e internacionais. Nesse sentido, mulheres negras latino americanas e caribenhas constroem suas identidades atribuindo ímpares sentidos às suas experiências..

Isto é, para além do contexto comum de opressão colonial dados os efeitos negativos da globalização nas periferias do mundo, há narrativas históricas coletivas que traduzem de maneira particular cada contexto de ocupação, quais sejam: continental ou insular, de origem espanhola, inglesa, francesa, holandesa ou mesmo na diáspora africana.

Aquela rede formada nos anos 90 se aprofunda e conta com a colaboração de mais de quatro centenas de mulheres, espalhadas por 30 estados-territórios. Com um reconhecimento cada vez maior de órgãos nacionais e internacionais, essas mulheres negras têm incidido na agenda global de articulação política, de produção e trocas de conhecimento e de estratégia para reversão de desigualdades, sobretudo na América Latina e Caribe mas não apenas.

Dados do Banco Mundial apontam que há nessa região cerca de 130 milhões de pessoas negras, sendo quase 100 milhões cidadãos brasileiros. No Brasil, as mulheres negras representam mais de 28% da população, o maior grupo demográfico, segundo o IBGE. Essa força demográfica somada à sua capacidade de produção intelectual e de organização política para a transformação social tem despertado interesse crescente dos núcleos tradicionais de poder.

No Brasil, o dia 25 de julho é também o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra – em referência à líder política e estrategista do quilombo do Quariterê, no atual estado de Mato Grosso, lugar de resistência de negros e indígenas no século 18.

Infelizmente, esse reconhecimento não acontece graças à uma tomada de consciência de que a cosmovisão diaspórica rica e plural construída por intelectuais como Lélia Gonzalez é indispensável ao avanço civilizatório. Mas sim porque a compreensão crescente de mulheres negras como sujeitas políticas representa um risco real à governabilidade autoritária em todo o mundo.

Cabe a nós, (não)internacionalistas absorver essa vasta produção literária e política, ainda tão subaproveitada, para impulsionar o movimento de mudança, que, como afirma Vilma Reis, pode e deverá ser conduzido por mulheres negras - nacional e internacionalmente.


Referências

BANCO MUNDIAL. Afrodescendentes na América Latina: Rumo a um Marco de Inclusão, 2018.

GONZALEZ, Lélia. A categoria político-cultural de amefricanidade. In: Tempo Brasileiro. Rio de Janeiro, Nº. 92/93 (jan./jun.). 1988b, p. 69-82

LOURENÇO, A. C. e FRANCO, A. (org.). A radical imaginação política das mulheres negras brasileiras. Oralituras, 2021, São Paulo: Fundação Rosa Luxemburgo.


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